pt | en
 
1 | 2 | 3
Gilberto Freyre, Anísio Teixeira e Jorge Amado, em 1961
O círculo de amizades do Movimento de 30
     Em meio à efervescência cultural do Rio de Janeiro, então capital do país, Jorge Amado travou amizade com personalidades da política e das letras, como Raul Bopp, José Américo de Almeida, Gilberto Freyre, Carlos Lacerda, José Lins do Rego e Vinicius de Moraes.
      A convivência com o chamado Movimento de 30 marcou profundamente sua personalidade e a preocupação que reteve com os problemas brasileiros. Jorge Amado viajou até Maceió especialmente para conhecer Graciliano Ramos. Nesse período, a escritora Rachel de Queiroz lhe apresentou aos ideais igualitários do comunismo.
      Em 1934, com a publicação de Suor, sua ficção aventurou-se pela realidade urbana e degradada da capital Salvador. Dois anos depois, lançou Jubiabá, romance protagonizado por Antônio Balduíno, um dos primeiros heróis negros da literatura brasileira. Aos 23 anos, Jorge Amado começou a ganhar fama e projeção: o livro tornou-se seu primeiro sucesso internacional. Publicado em francês, foi elogiado pelo escritor Albert Camus em artigo de 1939.
Jorge Amado (terceiro da esquerda para a direita) em campanha do PCB, em 1945
Veja vídeo (2m27)
Militância, censura e perseguições
     Sensibilizado com as fortes desigualdades sociais do país, em 1932 Jorge Amado filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Quatro anos depois foi preso pela primeira vez, no Rio de Janeiro, acusado de participar da Intentona Comunista. O ano era 1936, e Jorge Amado publicou um de seus livros mais líricos, Mar morto, protagonizado pelo mestre de saveiro Guma. O livro inspirou o amigo Dorival Caymmi a compor a música “É doce morrer no mar”.
      O romancista casou-se em 1933 com Matilde Garcia Rosa, na cidade de Estância, em Sergipe. Com ela, Jorge Amado teve uma filha, Eulália Dalila Amado, nascida em 1935 e falecida subitamente com apenas catorze anos.
      Em meados dos anos 30, Jorge Amado fez uma longa viagem pelo Brasil, pela América Latina e pelos Estados Unidos, durante a qual escreveu Capitães da Areia (1937). Ao retornar, foi preso novamente, devido à supressão da liberdade política decorrente da proclamação do Estado Novo (1937-50), regime de exceção instituído por Getúlio Vargas. Em Salvador, mais de mil exemplares de livros de Jorge Amado foram queimados em praça pública pela polícia do regime.
      Libertado em 1938, Jorge Amado transferiu-se do Rio para São Paulo, onde passou a dividir apartamento com o cronista Rubem Braga. Voltou a morar no Rio de Janeiro, e entre 1941 e 1942 exilou-se no Uruguai e na Argentina, onde escreveu a biografia de Luís Carlos Prestes, O cavaleiro da esperança, publicada originalmente em espanhol, em Buenos Aires, e proibida no Brasil. Ao retornar ao país, foi detido pela terceira vez, agora em regime de prisão domiciliar, na Bahia. Em 1943, escreveu para a coluna “Hora da guerra”, nas páginas de O Imparcial. No mesmo ano, o romance Terras do sem-fim foi o primeiro livro a ser publicado e vendido depois de seis anos de proibições às obras do autor.
Jorge e Zélia, grávida de João Jorge, em São João de Meriti, 1947
Veja vídeo (3m16)
A união com Zélia e a atividade política
     Em 1944, Jorge Amado separou-se de Matilde, após onze anos de casamento. No ano seguinte, em São Paulo, chefiava a delegação baiana no I Congresso Brasileiro de Escritores quando conheceu Zélia Gattai. A escritora se tornaria o grande amor de sua vida. Em 1947, nasceu o primeiro filho do casal, João Jorge. Quando o menino completou um ano, recebeu de presente do pai o texto O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, com desenhos de Carybé. Com Zélia, Jorge Amado teve também a filha Paloma, nascida em 1951, na Tchecoslováquia. Jorge e Zélia oficializaram a união apenas em 1978, quando já eram avós.
      Em 1945, Jorge Amado foi eleito deputado federal pelo PCB para a Assembléia Constituinte. Assumiu o mandato no ano seguinte, e algumas de suas propostas, como a que instituiu a liberdade de culto religioso, foram aprovadas e viraram leis. Alguns anos depois, porém, o partido foi colocado na clandestinidade e Jorge Amado teve o mandato cassado. Em 1948, partiu para a Europa e fixou-se em Paris. Durante o período de exílio voluntário, conheceu Jean-Paul Sartre e Picasso, entre outros escritores e artistas. Em 1950, o governo francês expulsou Jorge Amado do país, por motivos políticos.
      O autor passou a morar na Tchecoslováquia, e nos anos seguintes viajou pelo Leste Europeu, visitando a União Soviética, a China e a Mongólia. Escreveu seus livros mais engajados, como a trilogia Os subterrâneos da liberdade, publicada em 1954. Em 1956, após as denúnicias de Nikita Khruchióv contra Stálin no 20o Congresso do Partido Comunista da União Soviética, Jorge Amado se desliga do PBC.
Jorge Amado e mãe Menininha do Gantois
Veja vídeo (2m10)
Humor, sensualismo e a contestação feminina
     A partir do final da década de 50, a literatura de Jorge Amado passou a dar mais relevo ao humor, à sensualidade, à miscigenação e ao sincretismo religioso. Apesar de não terem estado ausentes de sua literatura, esses elementos passam agora a ocupar o primeiro plano, e seus romances apresentam um posicionamento político mais nuançado. Gabriela, cravo e canela, escrito em 1958, marca essa grande mudança. O escritor, porém, preferia dizer que com Gabriela houve “uma afirmação e não uma mudança de rota”.
      Nessa época, Jorge Amado passou a se interessar cada vez mais pelos ritos afro-brasileiros. Em 1957, conheceu Mãe Menininha do Gantois, e em 1959 recebeu um dos mais altos títulos do candomblé, o de obá Arolu do Axé Opô Afonjá. No mesmo ano, saiu na revista Senhor a novela A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, considerada uma obra-prima, que depois seria publicada junto com o romance O capitão-de-longo-curso no volume Os velhos marinheiros (1961). Mais tarde, viriam algumas de suas obras mais consagradas, como Dona Flor e seus dois maridos (1966), Tenda dos Milagres (1969), Tereza Batista cansada de guerra (1972) e Tieta do Agreste (1977).
      A nova fase de sua literatura compreende os livros protagonizados por figuras femininas, ao mesmo tempo sensuais, fortes e contestadoras. As mulheres inventadas por Jorge Amado consagraram-se no imaginário popular e ganharam as telas da televisão e do cinema. Nas décadas de 70, 80 e 90, os livros do autor viraram filmes e novelas, em adaptações realizadas por Walter George Durst, Alberto D’Aversa, Marcel Camus, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Bruno Barreto, Aguinaldo Silva, Luiz Fernando Carvalho, entre outros diretores e roteiristas. Glauber Rocha e João Moreira Salles realizaram documentários sobre o escritor.
 
  1 | 2 | 3
Apresentação | Obra | Vida | Centenário
Notícias | Infantil | Professores
Créditos | Fundação Casa de Jorge Amado
Apoio educacional: Volkswagen
Para receber informações e notícias sobre
Jorge Amado