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Jorge Amado, durante a construção da casa do Rio Vermelho
A casa do Rio Vermelho e a vida entre Salvador e Paris
     Jorge Amado vendeu os direitos de filmagem do livro Gabriela, cravo e canela para a Metro-Goldwyn-Mayer, em 1961. Com o dinheiro, comprou um terreno em Salvador e construiu uma casa, onde passou a morar com a família em 1963. A casa da rua Alagoinhas, no bairro do Rio Vermelho, era também uma espécie de centro cultural. Além de abrigar um grande acervo de arte popular, Jorge Amado e Zélia recebiam amigos artistas e intelectuais, e abriam as portas até para admiradores desconhecidos, de vários lugares do Brasil e do mundo.
      Em 1983, Jorge e Zélia passaram a viver metade do ano em Paris, metade na Bahia. Na Europa, o escritor era reconhecido e celebrado como um dos maiores romancistas brasileiros. Usava o seu apartamento no charmoso bairro do Marais, um lugar mais tranqüilo que sua movimentada casa em Salvador, como um refúgio para escrever.
      Durante a década de 80, Jorge Amado escreveu O menino grapiúna, suas memórias de infância, e o romance Tocaia Grande, dois livros que retomam o tema da cultura cacaueira que marcou o início de sua carreira literária. Nessa época escreveu também O sumiço da santa. Em 1987, foi inaugurada a Fundação Casa de Jorge Amado, com sede em um casarão restaurado no Pelourinho. A Fundação possui em seu acervo publicações sobre o escritor, como teses, ensaios e outros textos acadêmicos, artigos de imprensa, registro de homenagens e cartas.
Escrevendo Navegação de cabotagem. As notas na parede organizavam os capítulos do livro
Os últimos anos
     No começo da década de 90, Jorge Amado trabalhava em Bóris, o vermelho, romance que não chegou a concluir, quando redigiu as últimas notas de memória que compõem Navegação de cabotagem, publicado por ocasião de seus oitenta anos. Em 1992 recebeu de uma empresa italiana a proposta de escrever um texto de ficção sobre os quinhentos anos do descobrimento da América. Produziu a novela A descoberta da América pelos turcos, publicada no Brasil em 1994.
      Durante a década de 90, a filha Paloma, ao lado de Pedro Costa, reviu o texto de suas obras completas, a fim de suprimir os erros que se acumularam ao longos dos anos e das sucessivas edições de seus livros. Em 1995, o autor foi agraciado com o Prêmio Camões, uma das maiores honrarias da literatura de língua portuguesa.
      Em 1996, Jorge Amado sofreu um edema pulmonar em Paris. Na volta ao Brasil, foi submetido a uma angioplastia. Depois, recolheu-se à casa do Rio Vermelho, com um quadro clínico agravado pela cegueira parcial, que o deprimiu por impedi-lo de ler e escrever.
      O escritor morreu em agosto de 2001, poucos dias antes de completar 89 anos. Seu corpo foi cremado e as cinzas enterradas junto às raízes de uma velha mangueira, no jardim de sua casa, ao lado de um banco onde costumava descansar, à tarde, em companhia de Zélia.
Cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras
A consagração e a recusa da glória
     Ao longo das décadas, os livros de Jorge Amado foram traduzidos e editados em mais de cinqüenta países. Seus personagens viraram nomes de ruas, batizaram estabelecimentos comerciais e foram associados a marcas de vários produtos. O escritor foi tema de desfiles de Carnaval, freqüentou rodas de capoeira, envolveu-se com questões ambientais e teve suas histórias recriadas por trovadores populares ligados à poesia de cordel.
      Além do reconhecimento que o fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras proporcionou, o escritor recebeu o título de doutor honoris causa em universidades européias e centenas de homenagens ao longo da vida. Mas orgulhava-se sobretudo das distinções concedidas no universo do candomblé.
      Não à toa, o romancista escolheu o orixá Exu, desenhado pelo amigo Carybé, como marca pessoal. Trata-se de uma figura da mitologia iorubá que simboliza o movimento e a passagem. Exu está associado à trangressão de limites e fronteiras. A escolha indica tanto a filiação à cultura popular mestiça baiana como a valorização da arte de transitar entre universos sociais e culturais diferentes.
      Apesar de sua amizade com personalidades de destaque  - como Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e Gabriel Garcia Márquez - e do amplo reconhecimento de sua obra, Jorge Amado recusava pompa ou grandeza à sua trajetória de vida. Diz ele em Navegação de cabotagem: “Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor e não um literato, em verdade sou um obá”. E mais adiante, anota: “Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem”.
 
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