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Foto de capa
Genevieve Naylor
21.00 x 14.00 cm, 488 pp.
ISBN 9788535911701
99,90
Dona Flor e seus dois maridos
Romance, 1966 | Posfácio de Roberto DaMatta
     Num domingo de Carnaval, Vadinho parou de sambar e caiu duro. Uma vida de boemia chegava ao fim: cachaça, jogatina e noites de esbórnia arruinaram o jovem malandro. Dona Flor acorreu em prantos ao corpo do marido, fantasiado de baiana. Em sete anos de casamento, sofrera com as safadezas de Vadinho, mas o amava.
     Viúva, Florípedes Guimarães concentra-se nas aulas de cozinha na escola Sabor e Arte. Um ano depois da morte de Vadinho, porém, o desejo do corpo lhe incendeia o recato da alma.
     O farmacêutico Teodoro Madureira surge como pretendente. Do namoro e de um noivado pudico, eles passam ao casamento. Cerimonioso e equilibrado, o segundo marido é o oposto do primeiro. Dr. Teodoro vive para a farmácia e para os ensaios de fagote. Flor é feliz com ele, mas sente um vazio que não sabe definir.
     Certa noite, depois de um ano de casada, dona Flor toma um susto: Vadinho está nu, deitado na cama, rindo e acenando para ela. O fantasma do malandro passa a viver com o casal.
     No melhor estilo de crônica de costumes, Dona Flor e seus dois maridos descreve a vida noturna de Salvador, seus cassinos e cabarés, a culinária baiana, os ritos do candomblé e o convívio entre políticos, doutores, poetas, prostitutas e malandros.
     Uma das mais conhecidas personagens femininas do autor, dona Flor encarna contradições bem brasileiras. Dividida entre o fiel e comedido Teodoro e o extravagante e voluptuoso Vadinho, ela decide viver o melhor de dois mundos.
     A narrativa faz um retrato inventivo e bem-humorado das ambigüidades que marcam o Brasil, país dividido entre o compromisso e o prazer, a alegria e a seriedade, o trabalho e a malandragem.
FRUTAS DE JORGE AMADO, AS
Paloma Jorge Amado
Para saber quais as frutas preferidas dos personagens de Jorge Amado, Paloma vasculhou a obra do pai de fio a pavio, misturou com muita arte os trechos escolhidos a crônicas de colheita própria e acrescentou preciosas receitas.


     Jorge Amado contava que para escrever Dona Flor e seus dois maridos tinha se inspirado numa história que ouvira muito tempo antes: a de uma viúva que se casara novamente mas continuava sonhando com o finado marido. Para compor os traços de Vadinho, o escritor lembrou-se de um amigo de juventude que vivia “perdendo dinheiro e ganhando mulheres”. Além desse material de memória, o romance é entremeado de participações de personagens reais, como Dorival Caymmi, Pierre Verger, mestre Didi, Sílvio Caldas e Carybé.
     Escrito em Salvador na segunda metade de 1965, o livro foi lançado no ano seguinte, com grande sucesso. Dona Flor era a segunda personagem feminina marcante do autor, depois de Gabriela. A tiragem inicial, de 75 mil exemplares, esgotou-se rapidamente. Um dos maiores sucessos do autor, o romance ultrapassou as cinqüenta edições e foi publicado em mais de vinte países.
     Tamanha popularidade diz respeito à singularidade da história e ao humor do enredo, mas também a uma visão particular da sociedade brasileira. Para o antropólogo Roberto DaMatta, em Dona Flor e seus dois maridos, “Jorge Amado faz que a ambigüidade, o triângulo amoroso e o ponto de vista feminino se transformem em valores e deixem de ser o pólo negativo da ordem social ou da condição humana”.
     Quando o livro foi adaptado para o cinema, em 1976, com direção de Bruno Barreto, o sucesso se transferiu para as telas. É a maior bilheteria da história do cinema brasileiro, com mais de 10 milhões de espectadores.
     "Dona Flor não comete o erro político das sociologias brasileiras de supor que o novo faça desaparecer automaticamente o velho. Muito pelo contrário, ela descobre que há conflito entre os dois. Por isso, a solução não é tratar Vadinho como real em todas as esferas de sua vida. Sabendo que não pode destruir o reprimido que retorna, conhecendo o valor da tradição que faz parte de si mesma, ela deixa que Vadinho exista em alguns lugares de sua vida, pois descobre a impossibilidade de bani-lo. Aceitando suas razões, reconhecendo a hierarquia dos seus desejos, ela pode viver com mais honestidade a igualdade que os dois amores demandam. Mas, vejam bem, um não sabe do outro, porém dona Flor, como uma consciência relacional, sabe dos dois e os critica com critério e equilíbrio. É preciso deixar vir à tona as pulsões da censura para que a liberdade que incomoda possa florescer.
     Penso que este livro fascinante, explicitamente populista, repleto de cotidianidade brasileira, denso de sensualidade e escrito sem pompa e circunstância, que manifestamente trata de uma viúva apaixonada por dois homens que paradoxalmente são seus legítimos maridos - um, entretanto, morto e sequioso de sexo; o outro vivo, mas com uma vida marital disciplinada -, expõe o imenso poder dessas triangulações reveladoras de um Brasil profundo, desconhecido e dilemático."
     
     Trecho do posfácio de Roberto DaMatta
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